Bem, onde eu estava quando tudo o que aconteceu (escolha o que quiser) estava de fato acontecendo nos últimos dias? Eu descansava em férias, com a tranquilidade de saber que os acontecimentos não mudariam em nada se eu estivesse ansioso, preocupado, alerta. Em certos momentos, é preciso lembrar de nossa posição de passageiro no grande transporte público que é o mundo.
Mas, veja bem, isso não é defender nenhuma alienação.
Quando os acontecimentos parecem não fazer muito sentido ou não ser fáceis de explicar, as primeiras respostas são afobadas, simplistas e, na maioria absoluta das vezes, incorretas. E ainda rendem discussões infrutíferas. Quantas explicações rasas você ouviu nos últimos dias para assuntos extremamente complexos?
O fenômeno parece não ser exclusivo da política, da economia, da sociologia, da tecnologia, do futebol ou do assunto que surja no boteco. Para onde se olha, há alguém com a resposta, a cartilha, o coach, a interpretação dos ânimos do mercado, o ritual espiritual, o esquema perfeito.
É claro que não é uma exclusividade do nosso tempo e a História está cheia de exemplos em que as pessoas adotaram caminhos simples e errôneos em detrimento de uma abordagem analítica e científica. Se havia algo ou alguém em quem colocar a culpa, problema resolvido.
E eu até entendo a tentação de uma resposta simples e confortável. Procurar respostas não é uma tarefa fácil. Dá mais trabalho do que ouvir um guru ou perguntar para a Inteligência Artificial. E muitas vezes só chegamos a mais perguntas, é frustrante. Leva mais do que o tempo de uma vida, se pensarmos em descobertas científicas.
O caminho longo não é apenas o menos tomado – isto é natural. O atalho fácil para o entendimento das coisas passa a ser o caminho incentivado de uma maneira mais ampla, como se estudar algo com um certo afinco fosse perda de tempo. É pior: passa a ser motivo de deboche – numa crença de que a pessoa teria perdido tempo estudando em vez de se dar bem, vencer na vida, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim.
Como se muda este cenário? Eu vou lhe causar uma nova frustração: não tenho a resposta. Vou ficar aqui matutando mais um pouco, junto com a tentativa de entender os últimos acontecimentos. Porque as férias já acabaram e, com elas, também as minhas desculpas para não ficar minimamente alerta.
Fotos: Mohamed Nohassi e Adi Goldstein | Unsplash